1 - O vitiligo é autoimune
A doença ocorre quando as células que produzem pigmento morrem ou deixam de funcionar. Isso provoca a descoloração da pele, gerando manchas brancas. Essa despigmentação pode afetar qualquer área do corpo.
Durante muito tempo, as causas do vitiligo foram negligenciadas, mas hoje sabe-se que se trata de uma doença autoimune: o próprio sistema imunológico do paciente destrói as células produtoras de melanina. E ela tem origem genética.
— O vitiligo se assemelha a diabetes tipo 1 e a doença da tireóide nesse sentido: é autoimune e tem uma questão genética por trás. E é importante destacar que mesmo quem não tem ninguém com vitiligo na família pode vir a ter a doença porque tem algum parente com diabetes tipo 1 ou doença da tireóide. Há uma ligação entre essas enfermidades — afirma a Daniela.
2 - Nem sempre quem tem propensão genética tem a doença
Segundo a médica, uma pessoa pode herdar geneticamente a propensão ao desenvolvimento de vitiligo, mas jamais manifestar a doença. Sabe-se, ela explica, que existem "gatilhos" que contribuem para o aparecimento das manchas, como estresse e traumas.
— Traumas emocionais podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam o vitiligo — diz ela.
Daniela também destaca que, assim como qualquer doença genética, não necessariamente o filho vai herdar se um dos pais tiver. Portanto, a atenção em relação aos filhos de pacientes deve existir, mas sem uma preocupação exagerada.
3 - Atinge entre 1% e 2% da população
O vitiligo atinge entre 1 e 2% da população, no Brasil e no mundo, independentemente de sexo ou idade.
— Tem a mesma incidência da psoríase e da dermatite atópica, por exemplo — conta a dermatologista. — Anos atrás, falava-se bem menos de vitiligo do que dessas outras doenças de pele, mas, atualmente, com muitas modelos desfilando com as manchas em evidência e se dispondo a falar sobre isso na indústria da moda, o tema tem ganhado mais espaço.
4 - 60% dos casos surgem até os 20 anos
De acordo com Daniela Antelo, a maioria dos casos de vitiligo — 60% deles — começam a se manifestar antes de o paciente completar 20 anos de idade. Como a doença gera uma alteração estética, não é fácil de aprender a lidar com isso — ainda mais em se tratando de para crianças e adolescentes.
— O vitiligo mexe muito com a autoimagem. Produz as mais diversas consequências psicossociais na vida de quem tem a doença — ressalta ela. — Se é adolescente ou criança pequena, o estresse aumenta mais ainda. Por isso é importante que o tratamento inclua o aspecto psicológico.
Entre os principais impactos psicossociais, estão uma maior incidência de depressão, exclusão e fobia social.
— Muitos pacientes preferem se isolar. E há até tentativas de suicídio — lamenta a especialista.
5 - Não é contagiosa
O contágio é um dos mitos em torno do vitiligo. A doença não é transmidida de pessoa a pessoa, uma vez que, como foi mencionado acima, tem origem autoimune. Portanto, quem tem vitiligo pode e deve compartilhar utensílios e conviver normalmente com outras pessoas.
Além disso, a doença é, exclusivamente, uma alteraçao na aparência, não causando nenhum prejuízo na saúde física.
Muitos acreditam que existe um aumento na incidência da doença nos últimos anos, mas Daniela diz que é mais um mito: o que ocorre, segundo ela, não é crescimento no número de casos, mas quebras de tabu sobre o tema, o que leva mais pessoas a procurarem tratamento médico e a falarem sobre o assunto publicamente.
6 - Tem tratamento
É possível frear o aumento das manchas e até recuperar por completo a pigmentação. Para isso, o quanto antes o tratamento começar, melhor.
— O ideal é que o tratamento comece no primeiro ano do surgimento das manchas — diz Daniela. — Estudos mostram que, se começar a ser tratado nessa fase inicial, o paciente tem muito mais chances de recuperar a pigmentação, até porque as manchas não terão tido tempo de progredir muito.
Segundo a dermatologista, mesmo quem já desenvolveu muitas manchas consegue tratá-las. O processo pode ser mais lento, mas há solução para todos os pacientes.
Entre as possibilidades de tratamento, existem cremes, medicamentos imunossupressores, fototerapia e aplicação de laser. A especialista alerta que o tratamento deve ser feito globalmente — isto é, em todo o corpo —, mesmo nas partes da pele em que não há manchas, justamente para evitar que elas apareçam.
E, se o paciente já tentou de tudo e nada adiantou, existe ainda uma espécie de transplante de pigmento, chamado tecnicamente de transplante de melanócitos. Ele consiste em coletar pigmento de outras áreas da pele do próprio paciente e aplicá-los na região sem pigmentação.
Como as células removidas são da própria pessoa, não existe risco de rejeição do transplante. O tratamento dura até três horas e é realizado no consultório com anestesia local. Em cada sessão, pode-se tratar uma área de até 100 cm. Regiões maiores requerem mais sessões.
— O transplante de melanócitos não pode ser visto como primeiro tratamento. É um último recurso, para aquele paciente que já passou por outros tratamentos e não teve o efeito esperado — diz a dermatologista. — Ele exige alguns requisitos: o paciente não pode ter manchas em progressão e precisa estar estável por um ano antes de fazer o transplante.
7 - Não mata
O vitiligo é uma doença que altera a pigmentação da pele, mas não traz prejuízos ao funcionamento do organismo do paciente.
— Ninguém vai morrer de vitiligo, nem será internado, mas é uma doença que tem o potencial de afetar o dia a dia da pessoa profundamente. Por isso é importante o tratamento, tanto dermatológico quanto psicológico.
8 - Não tem cura
Depois que passa por um tratamento eficaz, o paciente pode nunca mais voltar a ter manchas na pele. Isso não significa que ele esteja curado. O vitiligo é como o diabetes e a hipertensão, uma doença crônica. Pode ser muito bem controlado, mas não tem cura.
— Muitos pacientes me dizem "você me curou do vitiligo, doutora", mas sempre ressalto que não se pode falar em cura. O vitiligo é crônico, então pode voltar. O paciente precisa fazer uma espécie de manutenção depois do tratamento, para tentar evitar isso — afirma Daniela.
A medica explica que é possível fazer essa manutenção com medicamento imunomodulador aplicado localmente, em geral duas vezes por semana.
A qualquer sinal de surgimento ou retorno de vitiligo, é importante procurar um dermatologista especializado para tratar a doença.
Fonte: https://oglobo.globo.com/saber-viver/oito-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-vitiligo-23760333
Por Clarissa Pains