O desenvolvimento de microrrobôs que possam levar remédios para partes específicas do corpo e realizar pequenas cirurgias é uma das grandes promessas da medicina do futuro. Um grupo de cientistas chineses conseguiu um protótipo de robozinho desse tipo bastante funcional. Ele é feito de alga, tem forma de mola e se movimenta guiado por ímãs.
O microrrobô criado pela equipe de Li Zhang, da Universidade Chinesa de Hong Kong, é na realidade um pequeno pedaço de espirulina (Spirulina platensis), uma alga que possui formato espiral. Esse jeitão helicoidal faz com que o dispositivo se desloque com desenvoltura pelo labirinto de moléculas do corpo, com propulsão por giro e capacidade de fazer curvas sinuosas.
Ele não precisa de bateria ou combustível, necessidade que desafiava os cientistas desenvolvedores de microrrobôs a procurarem substâncias que não fossem tóxicas e que durassem toda a viagem. Para andar pelo corpo, toma um banho de compostos magnéticos, podendo ser guiado por ímãs do lado de fora do organismo.
Os campos magnéticos criados fora do corpo podem penetrar o tecido vivo sem causar prejuízos. "É surpreendente que você possa encontrar na natureza uma estrutura tão conveniente e que ela possa se comportar tão bem", disse à revista Science o físico-químico PeerFischer, do Instituto Max Planck da Alemanha, que não participou do estudo.
Mas como saber onde o robozinho está depois que ele entrar no corpo? Parece que nunca um empreendimento científico encontrou soluções tão fáceis. A espirulina produz um brilho fluorescente, o que permite que seja rastreada quando anda pelo corpo.
Para ser magnetizada, a alga é coberta com milhões de nano-partículas de óxido de ferro. Em mergulhos mais profundos, a equipe de Li Zhang consegue rastrear a espirulina utilizando ressonância magnética nuclear, tecnologia que serve para detectar partículas magnéticas administradas a pacientes. O microrrobô de espirulina já foi testado em estômago de ratos.
Biocompatível e exterminador de tumores
Uma das grandes vantagens de se usar uma alga para explorar o corpo é o fato de ela ser biocompatível. A espirulina se degrada no corpo em algumas horas ou dias, dependendo da densidade do revestimento magnético, e não danifica as células do organismo. Assim, não há risco caso ela se perca, assim ela não precisa ser retirada do corpo.
Há apenas um tipo de célula para a qual a espirulina é tóxica. E aí está a ótima notícia, as células que ela destrói são cancerígenas. Em experimentos, cerca de 90% de tumores foram aniquilados após serem expostos à espirulina pelo período de 48 horas.
"O comportamento [de matar câncer] parece ser uma característica interessante e inesperada", disse Fischer à Science. Há, contudo, muitos aperfeiçoamentos a serem feitos. O microrrobô precisa mostrar que é capaz de carregar cargas, como medicamentos, e de entregar essas cargas de forma mais eficiente que injeções ou comprimidos.
Fonte: Portal UOL 19/12/2017