Ritalina é moda entre estudantes e tem venda ilegal em todo o Brasil
Porém, seu uso informal entre aqueles que "devoram" os livros para as provas, tornou a substância conhecida como "pílula da inteligência" ou "droga do concurseiro"Muito conhecida pelos efeitos de aumentar a capacidade da concentração, a ritalina é uma substância controlada, e normalmente receitada para as pessoas que sofrem do déficit de atenção, contudo, sua real popularidade está no meio acadêmico, no pré-vestibular, e, principalmente entre os concurseiros, onde a capacidade de absorver melhor o conteúdo dos exames e provas é o que faz a diferença para o sucesso.
Também conhecido como o metilfenidato, que vem da família das anfetaminas, a droga costuma a ser prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Porém, seu uso informal entre aqueles que “devoram” os livros para as provas, tornou a substância conhecida como “pílula da inteligência” ou “droga do concurseiro”.
Este medicamento é encontrado na forma de comprimido ou cápsula, e ambos devem ser utilizados por via oral. Existem concentrações diferentes deste medicamento, podendo ser encontrado no Brasil na concentração mínima de 10mg/comprimido e máxima de 54mg/comprimido. No que diz respeito a dose não existe a padronização para o tratamento com o metilfenidato, devendo ser individualizada, considerando o peso e outros fatores.
O metilfenidato é um psicofármaco controlado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através da Portaria 344/98 e obrigatoriamente deve ser dispensado através de prescrição médica. Esta receita tem a cor amarela e uma das vias deve ser retida na farmácia, pois há risco de abuso e dependência. Sua venda pela internet é terminantemente proibida pelo órgão federal.
Mesmo assim, isso não impede que os estudantes que, ansiosa e irresponsavelmente busquem pelos comprimidos através do mercado negro. Vasculhando nas redes sociais, não é difícil achar fornecedores anunciando o produto nos fóruns de discussão da internet. Segundo reportagem publicada pelo Jornal da Globo, em uma rede social uma mulher da Bahia afirma ter o medicamento para pronta entrega no perfil do facebook “Ritalina online”.
No entanto, após a divulgação da reportagem, a página foi alterada, apesar de ainda permanecer com o mesmo nome. Entre os comentários, também há comentários daqueles que fizeram uso da substância e relatam os efeitos positivos.
A qualidade deste produto é questionável, representando um risco de para qualquer um que o ingira. “Quando vendido de forma clandestina são “medicamentos” falsificados, sem qualidade e segurança da substância dentro daquela caixa. Esses medicamentos falsificados podem causar danos à saúde, através de uma intoxicação ou não fazer nenhum efeito na pessoa que porventura utilize-o”, alertou a farmacêutica Fernanda Barros, da Central de Informações do Conselho Regional de Farmácia (CFR-BA).
O Ministério da Saúde não tem um levantamento sobre o uso da Ritalina por região, mas uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro mostrou que o uso do medicamento cresceu quase 800% nos últimos dez anos no Brasil.
De acordo com o delegado federal Gustavo Revisan, em entrevista concedida ao Jornal da Globo, a punição para quem vende deste medicamento de forma irregular, além do tráfico de drogas pode responder pelo crime do antigo 273 do Código Penal, que tem uma pena até pior do que o tráfico, que prevê pena mínima de dez anos.
Medicamento divide especialistas até quando seu uso é indicado
Comumente receitada por neurologistas e psiquiatras infantis, a ritalina atualmente divide até mesmo os profissionais que trabalham com pacientes de TDAH. Mesmo que a substância seja aceita como uma ferramenta positiva, graças a seu efeito imediato, especialistas divergem sobre a forma como a substância é utilizada.
Entre elas, está a pediatra Maria Aparecida Moysés, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A ritalina aumenta a concentração de dopaminas, que é o neurotransmissor associado ao prazer, nas sinapses. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato consegue aumentar ainda mais esta concentração. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína”, destacou a professora.
A lista de sintomas é enorme, segundo aponta a docente. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência.
“Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no FDA [Food and Drug Administration]. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma”.
Outras possibilidades
Os questionamentos ao metilfenidato também parte da área psicológica. Para a psicóloga infantil Lise Freitas, existe um abuso no diagnóstico que, segundo ela, muitas vezes é feita de forma “superficial e leviana”.
“Às vezes, transtornos comportamentais acabam sendo confundidos com TDAH, levando a um diagnóstico imediato para a criança”, explica ela, que defende um diagnóstico multidisciplinar, em parceria com os psicólogos. De acordo com a especialista, através da área de neuropsicologia, é possível ter um diagnóstico mais claro sobre o verdadeiro transtorno de crianças com suspeita de déficit de atenção.
A área é responsável por fazer uma série de exames com a criança, onde é apurada a sua memória, capacidade de concentração, fazer escolhas, e outros aspectos no qual é necessário utilizar o raciocínio. Segundo a psicóloga, por ser um trabalho com resultados a longo prazo, os pais não costumam descartar a possibilidade da neuropsicologia.
Contudo, muitos que procuram os consultórios com essa especialidade são pessoas que preferem não recorrer a medicamentos para tratar do transtorno dos filhos. Além disso, Lise aponta que o remédio deve ser utilizado por um período pré-determinado, sendo retirado aos poucos, evitando a dependência.
Para evitar ação judicial, DF pede que médicos priorizem remédios do SUS
Profissional deve justificar se prescrever remédio fora do SUS, diz circular.
Saúde recebeu 336 ações para fornecimento de remédios neste ano. Circular publicada pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal recomenda que médicos da rede pública priorizem remédios padronizados no Sistema Único de Saúde (SUS) para prevenir demandas judiciais sobre dispensa de medicamentos não preconizados. No documento, elaborado pela corregedoria-geral da pasta e autorizada pelo subsecretário de Atenção à Saúde, José Tadeu Palmieri, os profissionais são orientados a esgotar as alternativas de fármacos disponíveis antes de receitar algum medicamento que não é padronizado pelo SUS.
Dados da Secretaria de Saúde mostram que, entre 1º de janeiro e 15 de julho, o DF recebeu 336 notificações judiciais para fornecimento de remédios. Dessas, 119 são referentes a medicamentos padronizados e 217 sobre não padronizados.
Dos 850 medicamentos preconizados no SUS, 71 estavam com estoque zerado na rede pública nesta sexta-feira (17). A pasta afirma estar organizando um mutirão para comprar doses de todos os medicamentos preconizados e sanar a falta de insumos na rede. almieri afirmou que o objetivo da circular foi racionalizar os medicamentos. "Muito teoricamente se o médico está receitando o medicamento é porque o remédio é mais eficiente. Essa recomendação é para que a pessoa tenha critério na indicação do produto, dizer o porquê das coisas. Não estamos falando de judicialização de itens essenciais para câncer, que é outro problema também, nós estamos falando de medicação básica", declarou.
Dos 850 medicamentos padronizados no SUS, 65 são para tratamento de câncer, segundo a secretaria. Na última terça-feira (14), nove deles estavam com estoque zerado na rede pública. A pasta informou ainda que os principais medicamentos oncológicos solicitados por meio de demandas judiciais são o Bortezomibe, a Abiraterona e o Fingolimode. O subsecretário explicou que em muitos casos médicos prescrevem remédios que gostam e não somente pela eficiência da droga. "Foi uma recomendação extremamente ética sobre o critério para prescrever não a marca, mas o fármaco. Temos medicamentos equivalentes", disse.
"Por exemplo, o Omeprazol tem várias formulações e a pessoa prescreve o de marca que não é só mais caro, mas nada compramos de marca, a não ser quando é exclusivo ou mais barato na rede, que é a orientação que nós temos. Saúde não tem preço, mas tem custo. O que a gente gastar com um medicamento vamos deixar de estar suprindo, fornecendo para outro paciente."
A circular orienta que o profissional que optar por uma droga não contemplada no SUS, deve apresentar justificativa técnica consistente, fundamentando a excepcional orientação clínica. Entre as indicações solicitadas na justificativa estão os motivos de exclusão dos medicamentos previstos no SUS, em relação ao paciente; benefícios do remédio; estudos científicos eticamente isentos e manifestação sobre possíveis vínculos com o laboratório fabricante.
"Ele tem que justificar, não pode simplesmente prescrever. Não está dizendo de forma alguma que ele não vai prescrever, mas se ele optar por um [medicamento] fora de padronização, ele tem que fazer um documento justificando o porquê", disse Palmieri. "Nessa parte de câncer tem muito interesse econômico envolvido e é publico isso."
O vice-presidente do Sindicato dos Médicos, Carlos Fernando da Silva, afirmou que vê a circular como algo positivo para a categoria. "A secretaria está dando ao médico um respaldo para que ele prescreva o que tem na rede, não que o médico não possa prescrever o que não tem. O médico que trabalha no serviço público tem que tentar adequar o tratamento do paciente com o que tem na rede, mas isso não prende o médico a prescrever outra droga", afirmou.
"É uma medida importante que protege até o médico para que não tenha uma ação judicial ou denúncia à toa e ele mostre ao paciente que o medicamento tem na rede e que há outros tipos de tratamento."
'Coagidos'
No entanto, um médico da rede pública que preferiu não se identificar afirmou que alguns profissionais estão se sentindo coagidos e ameaçados com o documento. "Médicos com contratos temporários, por exemplo, não estão prescrevendo [medicamentos fora do SUS] porque querem que o contrato seja renovado. Se eles pedissem as drogas que não têm no SUS, eles não conseguiriam renovar", declarou. "Essa pressão vem desde o ano passado informalmente com esse negócio de contrato temporário. As assistências judiciais ligavam para a gente informalmente falando que não dava para ficar liberando essas medicações que não tinham no SUS. A diferença agora é que veio algo formal."
O especialista disse ainda que se sentiu ofendido com as recomendações mesmo sendo concursado da rede pública e que continua receitando remédios que classifica como mais adequados aos pacientes. "Agora eu estou sendo ameaçado por fazer o certo. É um absurdo. Pedem para a gente economizar com o pai de família. Isso não é problema meu, é problema do SUS."
O subsecretário negou que algum profissional tenha sido coagido ao prescrever medicamentos não padronizados no SUS. "Isso é mentira. Não existe a menor possibilidade. Há a liberdade de o médico escolher, mas ele tem que justificar, ele não pode falar 'porque eu gosto', ele não pode falar eu não quero comprar tal medicação que custa metade do preço porque eu não gosto desse aqui", declarou.
"Ninguém nunca foi coagido na Secretaria de Saúde por prescrever. Deveria até ser às vezes porque muitas vezes tomam atitude irresponsável na prescrição de antibiótico, mas existe a liberdade médica. Se houve algum médico que se sentiu coagido, ele tem que se informar melhor, tem que ler a portaria, tem que ler o que está escrito, a maioria não deve ter nem lido a circular porque ela é clara."
Câmara técnica
Palmieri explicou que a secretaria está oficializando uma câmara técnica para analisar as justificativas dos médicos para a compra de medicamentos dentro dos critérios citados.
Segundo o subsecretário, o grupo é composto de especialistas com saber notório na especialidade que vai ser discutida sobre as justificativas apresentadas para levar ao juiz e instruir o processo. "Hoje chega para judicialização e nem se discute. Tem a determinação, pedido do médico, pedido do juiz e encaminha para compra. A gente quer fazer uma câmara técnica principalmente nessa parte de órtese e prótese, que o impacto é maior e nem sempre tem benefício."
Ele afirmou que atualmente já existem câmaras técnicas para infecção e ortopedia e que a pasta está se organizando para implantar áreas de neurologia e oncologia. "Essa câmara técnica tem que ter diálogo e ser confiável, não pode ser uma câmara técnica que vise só o aspecto financeiro ou coibir o que é o melhor para o paciente, mas que seja confiável perante o defensor público."
Fonte: Tribuna da Bahia