A descoberta de novas funções para medicamentos não é rara na medicina. A sildenafila — usada para o tratamento da disfunção eréctil e conhecido popularmente pela marca Viagra —, por exemplo, era estudada para o tratamento da hipertensão antes de ser indicada para a impotência sexual. Agora, essa mesma droga pode se tornar uma aliada no combate à malária. Um estudo publicado no início do mês na revista científica PLOS Pathogens mostra que a “pílula azul” é capaz de impedir que o parasita que causa a doença passe de humanos para os mosquitos.
A malária é uma doença infecciosa causada pela picada de um mosquito Anopheles que esteja infectado por protozoários do gênero Plasmodium. Após o contágio, o parasita se instala no fígado do paciente para se reproduzir e, após o período de maturação, ataca os glóbulos vermelhos. Quando um mosquito não infectado pica um humano doente, ele se torna vetor, facilitando a expansão da doença.
O estudo, realizado por pesquisadores franceses e ingleses, mostrou que a sildenafila, o Viagra, torna rígido o parasita dentro dos glóbulos vermelhos. Isso faz com que a própria célula se torne mais rija, o que torna mais fácil a sua eliminação pelo baço. Sem a droga, o Plasmodium deforma a parede celular e consegue se ”esconder” das defesas do organismo.
Apesar de o paciente continuar com a doença até o fim do tratamento, os glóbulos vermelhos infectados são eliminados rapidamente, impedindo que um novo mosquito seja infectado.
— Essa estratégia abre novos caminhos para o desenvolvimento de novas intervenções que impeçam a expansão da malária para os humanos — disse Ghania Ramdani, líder dos pesquisadores, ao jornal britânico “Mirror”.
Atualmente, o tratamento da malária tem como alvo a forma imatura do parasita, que fica alojada no fígado. O estudo abre espaço para o combate à forma madura do Plasmodium. A ideia é que uma forma alterada da sildenafila seja ministrada aos pacientes, sem o efeito da ereção.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 3,2 bilhões de pessoas vivem em áreas de risco para malária. Em 2013, foram registrados 198 milhões de casos da doença, com estimadas 584 mil mortes.
Fonte: Portal O Globo 19/05/2015