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Equipe da Universidade de Franca, no interior paulista, obtém patente de substância que causa ereções em ratos e pode se tornar remédio para disfunção erétil
Um grupo de pesquisadores estava testando uma série de moléculas similares como arma contra o mal de Chagas, doença causada por um parasita e que pode levar à insuficiência cardíaca.
As substâncias não se revelaram muito eficazes para esse fim, mas alguns dos ratos usados no estudo, repararam os cientistas, apresentavam uma potente ereção.
Após estudar melhor o fenômeno, a equipe da Unifran (Universidade de Franca, no interior paulista) acabou mostrando que uma das substâncias, a (-)-cubebina --pronuncia-se "menos cubebina"-- tinha potencial para ser usada como medicamento contra a disfunção erétil em seres humanos, inclusive com vantagens em relação a fármacos que estão no mercado hoje, como o Viagra (citrato de sildenafila).
A equipe obteve recentemente a patente do uso da molécula para esse fim nos Estados Unidos e está negociando testes mais detalhados dela com representantes da indústria farmacêutica, afirma o coordenador do estudo, o farmacêutico Márcio Luís Andrade e Silva.
"Esperamos fechar isso o mais rápido possível. Podemos ter excelentes notícias em breve, mas a negociação ainda é confidencial", diz ele.
TEMPERO DO ORIENTE
A molécula, como indica seu nome, foi obtida a partir da cubeba ou pimenta-de-java (Piper cubeba), nativa da Indonésia, tradicionalmente usada como condimento ou para fins medicinais.
Segundo Andrade e Silva, a equipe passou a fazer modificações na estrutura molecular dos derivados da cubeba, testando essas substâncias também contra doenças como esquistossomose ou como anti-inflamatório.
Após verificar o curioso efeito nos ratos, a equipe passou a fazer exames mais detalhados do fenômeno, inclusive analisando o que acontecia com o corpo cavernoso do pênis dos animais --a parte do órgão que, ao receber maior irrigação sanguínea, é a principal responsável por mantê-lo ereto.
"Comparamos a ação da (-)-cubebina com a do princípio ativo do Viagra e verificamos que ela é 50% mais potente", diz o farmacêutico da Unifran. Trocando em miúdos, a molécula derivada da planta enche o pênis com sangue de modo mais eficiente, deixando-o mais túrgido ("cheio"), como dizem os especialistas.
Essas análises mais detalhadas também mostraram que a substância atua inibindo uma enzima (molécula que acelera reações bioquímicas), a fosfodiesterase-5, que mantém o pênis em seu estado flácido. Essa enzima também é o alvo de remédios contra disfunção erétil existentes hoje.
Andrade e Silva afirma que a maior potência da molécula não necessariamente indica que seu efeito seria mais doloroso ou difícil de reverter. "Tudo isso é uma questão de formulação e dosagem, algo que podemos ajustar conforme os estudos avançam", pondera.
Para que a substância se torne a base de um novo produto, serão necessários mais testes em animais e ao menos três baterias diferentes de ensaios clínicos com pacientes humanos, o que deve exigir vários anos de estudos.
Fonte: Folha de S.Paulo - Data: 30/10/2014
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