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Os exames com 48 voluntários começarão em fevereiro. Segundo cientistas, o tratamento não vai curar a doença, mas acabar com a obrigatoriedade da ingestão frequente de remédios antirretrovirais.
Erwann Loret liderou a equipe responsável pela vacina que pode substituir o coquetel anti-HIV: primeiros resultados estão previstos para 2015
Trocar o coquetel de antirretrovirais, que causa vários desconfortos colaterais, por uma injeção que não cure a Aids, mas garanta um tratamento menos incômodo. Essa é a proposta dos testes clínicos que começarão a ser desenvolvidos em Marselha, no sul da França, no próximo mês. Quarenta e oito voluntários participarão do experimento, que deve durar cerca de dois anos. Em nota, a Assistência Pública dos Hospitais de Marselha ressaltou que a eficácia da vacina foi demonstrada em experimentos feitos in vitro e em macacos. A nova etapa com humanos, autorizada pela Agência Nacional de Segurança do Medicamento no último dia 24, vai identificar, entre outros fatores, se há contraindicações e a dose mais adequada do medicamento.
A vacina, desenvolvida pelo laboratório de biologia estrutural dirigido por Erwann Loret, contém um princípio ativo que atua sobre a proteína Tat, que exerce papel importante no ciclo de replicação do vírus HIV. Nos soropositivos, essa proteína, segundo Loret, funciona como um “guarda-costas das células infectadas”. Por conta da ação dela, o organismo não consegue reconhecer e neutralizar as estruturas infectadas. A intenção da vacina é justamente impedir essa blindagem. Os primeiros esboços de resultados são esperados para julho deste ano.
Os voluntários precisam estar tomando coquetéis anti-HIV. Durante os testes, eles serão vacinados três vezes, com um mês de intervalo entre cada dose. Os pacientes serão divididos em quatro grupos, com doses diferentes para os três primeiros e um placebo para o quarto.
Após o tratamento com a vacina, deverão suspender a ingestão de coquetéis durante dois meses. “Se, após esse período, a viremia (taxa de vírus no sangue) for indetectável, o estudo terá cumprido os critérios estabelecidos pela ONU Aids”, explicou Loret. Em caso de sucesso, novos testes serão realizados com 80 pessoas, sendo que a metade receberá a vacina com a dose considerada mais adequada na primeira etapa dos testes e a outra, um placebo. A expectativa é de que os resultados sejam divulgados em meados de 2015.
Se tiver a eficácia confirmada, a vacina poderá substituir o coquetel de medicamentos prescritos para o tratamento da Aids. Loret faz questão de salientar que não se trata da cura da doença, mas de uma nova forma de abordagem terapêutica. Desde que foi descoberto, em 1981, o vírus da Aids causou mais de 30 milhões de mortes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente 1,8 milhão de pessoas morram da doença.
Outros projetos
A iniciativa liderada por Loret não é a única do tipo desenvolvida no meio científico. De acordo com Jean-François Delfraissy, diretor da francesa Agência Nacional de Pesquisas sobre a Aids (ANRS), “de 25 a 26 testes com vacinas anti-HIV são realizados no mundo atualmente”.
No início deste mês, cientistas espanhóis anunciaram que desenvolveram uma vacina terapêutica capaz de reduzir em 90% a carga do vírus HIV no organismo e impedir temporariamente a sua replicação. Liderada por Felipe García, a equipe de pesquisadores pulsou as células dendríticas de um paciente com HIV inativado pelo calor e, em seguida, as usou como vacina. De acordo com eles, os testes resultaram na melhor resposta virológica alcançada por qualquer vacina terapêutica até então testada.
A vacina foi aplicada em 36 pacientes e mostrou-se viável, segura e bem tolerada, além de mudar o equilíbrio vírus/hospedeiro em favor do hospedeiro, de acordo com o artigo publicado na revista especializada Science Translational Medicine. Na 24ª semana após o tratamento, foi detectada uma redução de 90% da carga viral nos pacientes. Os cientistas tentam, agora, combiná-la com estratégias que aumentem o tempo de ação e tornem possível a interrupção do tratamento com o coquetel antirretroviral.
No Brasil e nos Estados Unidos, o Instituto Oswaldo Cruz e a Universidade de Miami desenvolvem uma técnica que também pode levar à produção de vacina contra a Aids. O estudo, publicado em outubro do ano passado na revista Nature, é focado em pacientes que contraíram o vírus, mas nunca adoeceram. Os cientistas debruçaram-se sobre a célula T CD8, responsável por eliminar do corpo estruturas invasoras, como o vírus HIV. Testes feitos com macacos identificaram uma redução da replicação do vírus em até 50 vezes.
Registro nos EUA
Os primeiros casos de Aids foram registrados em junho de 1981 pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos. À época, a enfermidade misteriosa recebeu o nome de doença dos 5 Hs, em referência ao fato de ter sido detectada em homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e prostitutas (hookers, em inglês). Três anos depois, a equipe do virologista francês Luc Montagnier isolou e caracterizou o retrovírus causador da doença. Em 1987, o coquetel de medicamentos AZT surgiu como a primeira droga capaz de reduzir a multiplicação do vírus no organismo humano. Naquele ano, 2.775 casos eram conhecidos pelas autoridades públicas brasileiras. Hoje, o governo brasileiro estima que entre 490 mil e 530 mil adultos estão infectados com o vírus da Aids.
Fonte: CORREIO BRASILIENSE – DF
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