Pesquisa mostra que brasileiros consomem o dobro da média mundial de remédios e 15% da população sofre com cefaleia aguda.
Dores de cabeça atacam 72% da população brasileira, que tende a buscar doses cada vez mais altas de analgésicos para resolver o problema. A cefaleia aguda (dor de cabeça constante) chega a ser o dobro da média mundial entre os brasileiros. Os dados são da pesquisa feita na Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).
A pesquisa foi feita em 2009 e mostra que, dentre os brasileiros, o percentual dos que sofrem de enxaqueca é de 15%. Ela aponta ainda que o mau uso dos analgésicos leva as pessoas a se acostumarem com as doses e a ter crises de abstinência quando não a consomem.
A representante da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), regional de Mato Grosso, Ana Maria Martins, explica que apesar de não se ter nenhuma pesquisa com dados de Mato Grosso, o percentual não difere muito da média nacional.
Ela explica que o hábito da automedicação é muito comum pela crença popular de que ter dor de cabeça é algo normal. Após a ingestão de quantidades cada vez maiores de remédios, as dores já se agravaram e tornaram-se constantes. Só então as pessoas tendem a procurar um médico. A principal reclamação dos pacientes, além da dor, é a dificuldade de se concentrar e de realizar tarefas cotidianas.
A dependência aos analgésicos, diz Ana Maria, se deve ao fato de na maioria deles ter uma quantidade padrão de 100ml de cafeína em cada comprimido. “Essa substância alivia a dor momentaneamente, mas se tomada com frequência, vai acostumando o organismo a essa quantidade. Se não for ingerida, a pessoa tem dores de cabeça por não ter tomado o analgésico”, afirma.
Não só a pessoa fica dependendo da medicação, mas cada vez que tem dor de cabeça, precisa aumentar as doses para resolver o problema. Ana Maria diz que já atendeu pacientes que estavam tomando oito comprimidos de analgésico diariamente.
Ela explica que para sair desse ciclo de aumento da dor de cabeça e do consumo da medicação, é preciso ter paciência. Segundo Martins, é um processo lento em que a pessoa vai diminuindo as doses e enfrentando os sintomas e crises de abstinência aos poucos. Também há a opção de se cortar o consumo dos analgésicos de uma só vez. Nesse caso, ela explica que a pessoa vai sofrer com os sintomas por cerca de um mês, até que eles começam a se amenizar.
Como forma alternativa para o tratamento da dor, sem o consumo de analgésicos, Ana Maria cita a acupuntura. “As agulhas são um estímulo a determinados pontos do corpo que ajudam na liberação de substância que aliviam a dor”, explica.
Um exemplo da situação é a professora que se identificou apenas como Angélica, 51 anos. Ela conta que desde criança sofre com enxaqueca e que sempre se medicou por conta própria, com doses diárias de analgésico. Ela disse que para aliviar a dor, precisava aumentar a dose, pois as crises pioravam com o tempo.
Depois de se consultar com um neurologista, Angélica foi proibida pelo médico de fazer uso dos analgésicos. Hoje ela faz tratamento com um especialista e usa apenas os medicamentos receitados pelo médico, que tem como principal objetivo a prevenção, e não somente a eliminação, das crises de dor de cabeça.
Fonte: DIARIO DE CUIABÁ – MT