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Remédios combatem doenças crônicas como diabetes e câncer, além de patologias como derrames e infartos. Um frasco, porém, pode chegar a custar R$ 7 mil.
Quem a vê no volante ou nas tarefas diárias de casa pode não acreditar. A aposentada Regina Tourinho, 74, tem artrite reumatoide nas mãos e nos pés há 15 anos. A doença se caracteriza pela inflamação das articulações e pode levar à incapacitação funcional dos pacientes. Há três anos, a própria se injeta um medicamento cada 15 dias. É o Humira, um medicamento biológico que regula as reações do sistema imunológicos a proteínas do próprio organismo, o que gera o problema.
— Eu costumava acordar com as juntas travadas. Hoje, me sinto bem. As dores diminuíram muito e a qualidade de vida aumentou — conta. Produzidos a partir de células vivas, os medicamentos biológicos, como o usado por Regina, representam cerca de 20% do setor farmacêutico global, crescendo a uma velocidade cinco vezes maior que o mercado, segundo a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Constitutem também uma fonte de inovação da indústria farmacêutica e proporcionam a possibilidade de tratamento para doenças crônicas como diabetes, hepatites, artrite reumatóide e câncer, mas, também, patologias agudas como infarto do miocárdio, derrames e tromboembolismos.
O único empecilho, porém, é o custo. Um frasco pode chegar a R$ 7 mil. Os medicamentos biológicos, em geral, são formados por moléculas grandes, complexas e construídas de milhares de átomos. São instáveis e variáveis, o que impossibilita a realização de cópias. Já os sintéticos são compostos de moléculas simples, que seguem uma receita já definida e podem ser fabricados em escala industrial.
Os remédios foram debatidos no seminário Biológicos na Prática Médica - Soluções e Desafios, realizado nesta quarta-feira, no Windsor Excelsior Copacabana. O evento tratou do assunto, como a manufatura e aplicação na cardiologia e nefrologia. Os biológicos formam uma classe diversa e heterogênea de produtos. Existem hormônios, fatores de crescimento e de diferenciação celular, enzimas capazes de dissolver coágulos, anticoagulantes para prevenir a até nticorpos monoclonais usados no tratamento do câncer e doenças autoimunes.
A complexidade da fabricação dos medicamentos eleva o custo dos produtos. Apesar de representarem aproximadamente 1% dos medicamentos fornecidos pelo Ministério da Saúde, significam aproximadamente um terço dos gastos com medicamenteos. Segundo Leda Castilho, professora do Programa de Engenharia Química da Coppe, da UFRJ, nenhuma empresa brasileira produz princípios ativos de medicamentos biológicos. Todos são importados. Há, porém, estudos em todo o país, como na própria instituição da acadêmica. Com uma produção nacional, o preço poderia cair até 90%.
— Já vemos um interesse do Ministério da Saúde em pensar em políticas públicas para favorecer a produção nacional. Estes procedimentos, porém, são longos. Calculo que o tempo entre o início do desenvolvimento e o registro do produto seja de aproximadamente 10 anos — garante Leda Castilho, professora do Programa de Engenharia Química da Coppe, da UFRJ.
Os medicamentos são fabricados a partir de células vivas. Estas precisam permanecer sob condições de temperatura específicas e com alimentação na hora e quantidade certa durante semanas ou até meses. É um procedimento que difere do empregado na produção química convencional. Os remédios biológicos são imunogênicos, ou seja, podem despertar uma reação do organismo. Os efeitos, portanto, não são completamente previsíveis. Pode ocorrer diminuição da eficácia e reações de hipersensibilidade ao produto.Na oncologia, os anticorpos monoclonais, derivados de um clone de linfócitos, podem ser dirigidos a qualquer alvo molecular. Funcionam como mísseis que localizam a substância contra a qual foram produzidos de forma específica. Assim, podem marcar ou destruir células tumorais.Nas artrites, os agentes biológicos reagem contra as células que promovem a inflamação.
— Doenças como a artrite reumatoide costummam surgir após uma resposta inflamatória do organismo. É aí que entram os medicamentos biológicos, que atuam quase cirurgicamente no sistema que gera as reações e conseguem bloqueá-las. Têm um nível de sofisticação e precisão que remédios sintéticos não possuem — explica Geraldo Castelar, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Geraldo Castelar. (Manchetes)
Fonte: O Globo – Rio de Janeiro - Felipe Sil
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