Introdução
Aleitamento materno é a base para a sobrevivência, nutrição e o desenvolvimento de lactentes e crianças pequenas, e para saúde materna. A Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida, seguido por continuação do aleitamento e complementação alimentar adequada por até 2 anos ou mais.
O contato pele a pele inicial e contínuo, alojamento materno e o método canguru também melhoram de forma significativa a sobrevida neonatal e reduzem a morbidade nessa fase, e são recomendados pela OMS.
Entretanto, há uma preocupação: se as mães com a doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) podem transmitir o vírus SARS-CoV-2 para os bebês ou crianças pequenas através do aleitamento. As recomendações sobre o contato mãe-bebê e aleitamento devem se basear na consideração ampla, não apenas dos riscos potenciais da COVID-19 para o bebê, mas também dos riscos de morbidade e mortalidade associados ao não aleitamento, uso inapropriado de fórmulas infantis, além dos efeitos protetores do contato pele a pele.
Essa informação científica avalia as evidências atuais sobre os riscos de transmissão da COVID-19 de uma mãe infectada para seu bebê através do aleitamento materno, assim como as evidências sobre os riscos à saúde da criança por não ser amamentada.
Recomendações da OMS
A OMS recomenda que as mães com suspeita ou confirmação de COVID-19 sejam estimuladas a iniciar ou continuar o aleitamento.
As mães devem ser orientadas sobre os benefícios do aleitamento materno que superam consideravelmente os riscos potenciais de transmissão.
Deve-se permitir que a mãe e o bebê permaneçam juntos em alojamento conjunto durante o dia e à noite, e pratiquem o contato pele a pele, inclusive o método canguru, especialmente logo após o nascimento e enquanto estabelecem a amamentação, mesmo se elas ou os bebês tenham suspeita ou confirmação de COVID-19.
Métodos
Foi realizada uma revisão sistemática das evidências, conforme os procedimentos do manual Cochrane para revisões sistemáticas de intervenções, com a última busca em 15 de maio de 2020, para identificar estudos incluindo mães com suspeita ou confirmação de COVID-19 e seus bebês ou filhos pequenos.
A busca foi feita em Cochrane Library, EMBASE (OVID), PubMed (MEDLINE),
Web of Science Core Collection (Clarivate Analytics) e WHO Global Database. Foram encontrados 12.198 registros, 6.945 foram rastreados após excluir os duplicados, e 153 registros com díades mãe-bebê, em que a mãe tem COVID-19, foram incluídos na revisão de texto na íntegra.
Resultados
Um total de 46 díades mãe-bebê tiveram amostras de leite materno testadas para COVID-19. Todas as mães tinham COVID-19, e 13 bebês testaram positivo para COVID-19. As amostras de leite de 43 mães foram negativas para o vírus causador da COVID-19, e as de três mães testaram positivo para partículas virais no RT-PCR.
Entre os três lactentes de mães com leite materno positivo para partículas virais no RNA, e não no vírus vivo, um bebê testou positivo para COVID-19, mas as práticas alimentares dos lactentes não foram relatadas. Os outros dois bebês testaram negativo para COVID-19; um era amamentado, e o outro recém-nascido era
alimentado com leite materno ordenhado, depois de não se detectar partículas virais no RNA. Na única criança com COVID-19, não ficou claro por qual via ou fonte o bebê se infectou; por exemplo, se pelo leite materno ou gotículas pelo contato próximo com a mãe infectada.
Um artigo em preprint descreveu a resposta imune da imunoglobulina secretora A (sIgA) contra o vírus causador da COVID-19, encontrada em 12 de 15 amostras de leite de mães com COVID-19.
Não foram abordadas as implicações desse achado sobre o efeito, a duração e a proteção contra COVID-19 para a criança.
Limitações
Até o presente, os estudos de díades mãe-bebê com dados sobre práticas alimentares e infecção por COVID-19 são relatos de casos, série de casos ou um relatório de um agrupamento (cluster) familiar. Outros desenhos de estudos, como estudos de coorte ou caso-controle eram elegíveis para inclusão, mas não foram identificados. Portanto, não conseguimos medir e comparar os riscos de infecção com base nas práticas alimentares.
Embora um entre três bebês de mães com partículas virais no leite tivesse COVID-19, não ficou claro por qual via ou fonte o bebê se infectou; por exemplo, se pelo leite materno ou pelo contato próximo com a mãe ou outra pessoa infectada.
O exame de RT-PCR detecta e amplifica o material genético viral em amostras, como o leite materno, mas não oferece informações sobre a viabilidade ou infectividade do vírus. É necessário ter a presença documentada de replicação do vírus causador da COVID-19 em cultura de células do leite materno e infectividade em modelos animais para considerar o leite humano como potencialmente infeccioso.
A presença de IgA no leite materno é uma das formas pelas quais o aleitamento protege os lactentes contra infecção e morte.
Os anticorpos IgA com reatividade ao vírus SARS-CoV-2 foram detectados no leite de mães previamente infectadas com COVID-19, mas seu efeito e durabilidade ainda não foram estudados de modo adequado, para abordar a proteção de bebês amamentados contra a COVID-19.
Discussão
Detectar RNA do vírus da SARS-CoV-2 no leite materno não é o mesmo que encontrar vírus viáveis e infecciosos. A transmissão de COVID-19 precisaria de replicação de vírus infecciosos, capazes de atingir os sítios-alvo nos bebês, e ainda vencer os sistemas de defesa dos bebês. Se no futuro o vírus causador da COVID-19 mostrar replicação em cultura de células, terá que atingir os sítios-alvo nos bebês, e vencer seus sistemas de defesa para que a transmissão de COVID-19 possa ocorrer.
As implicações do risco da transmissão precisam ser abordadas em termos de prevalência de COVID-19 em mães que amamentam, e o escopo e a gravidade da infecção por SARS-CoV-2 em bebês quando a transmissão ocorre, em comparação com as consequências adversas da separação e do uso de substitutos do leite materno, além de separação dos recém-nascidos e bebês das mães.
As crianças parecem ter um risco menor de ter COVID-19. Entre os casos confirmados de COVID-19 em crianças, a maioria teve doença leve ou assintomática.7,8 O mesmo ocorre com outros coronavírus zoonóticos (SARS-CoV e MERS-CoV), que parecem afetar menos crianças, e causar menos sintomas, e menos doença grave em comparação com adultos.
A IgA secretora (sIgA) foi detectada no leite de mães com infecção prévia pelo vírus causador da COVID-19. Apesar da força e durabilidade da IgA secretora reativa ao COVID-19 ainda não terem sido determinadas, foram identificados diversos componentes bioativos no leite materno, que não apenas protegem contra infecções, mas melhoram o desenvolvimento cognitivo e imunológico da criança, desde que Lars A Hanson descreveu a IgA no leite humano, pela primeira vez, em 1961.10-12
O contato pele a pele e o método canguru facilitam o aleitamento materno, melhoram a regulação térmica, controle glicêmico, e vínculo materno-infantil, além de diminuir o risco de mortalidade e infecção grave entre os bebês de baixo peso ao nascer.13,14 Depois do período neonatal, os efeitos positivos da relação mãe-bebê incluem melhores padrões de sono, menores taxas de problemas comportamentais na criança, e melhor qualidade de interação com os pais.
Em comparação aos bebês em aleitamento exclusivo, o risco de mortalidade é 14 vezes maior naqueles não amamentados.17 Mais de 820 mil vidas poderiam ser salvas todos os anos entre crianças menores de cinco anos, se todas fossem amamentadas da forma ideal, entre 0 e 23 meses de idade. Para as mães, a amamentação protege contra o câncer de mama, e pode proteger contra o câncer de ovário e diabetes tipo 2.18 Por outro lado, as crianças têm menos risco de ter COVID-19.
Lacunas de conhecimento
Ainda não está esclarecido se o vírus pode ou não ser transmitido pelo leite materno. O risco de transmissão por práticas alimentares ainda não foi quantificado, comparado, ou modelado em relação aos benefícios do aleitamento materno e do estímulo do vínculo mãe-bebê.
Conclusão
Os dados disponíveis até o momento não são suficientes para se concluir sobre a transmissão vertical da COVID-19 através do aleitamento materno. Em bebês, o risco de infecção por COVID-19 é baixo, a infecção é geralmente leve ou assintomática, ao passo que as consequências de não amamentar e separar a mãe da criança podem ser significativas.
Neste ponto, parece que a COVID-19 em bebês e crianças representa uma ameaça bem menor à sobrevida e saúde do que outras infecções, contra as quais o aleitamento materno protege.
Os benefícios do aleitamento materno e do estímulo ao vínculo mãe-bebê, na prevenção de infecções e promoção da saúde e do desenvolvimento, são especialmente importantes quando os serviços comunitários e de saúde estão fechados ou limitados.
Adesão às medidas de prevenção e controle de infecção é essencial para evitar transmissão por contato entre mãe com suspeita ou confirmação de COVID-19 e seu recém-nascido ou bebê.
Com base nas evidências disponíveis, as recomendações da OMS sobre início e continuação do aleitamento de lactentes e crianças pequenas também se aplicam às mães com suspeita ou confirmação de COVID-19.
Organização Pan-Americana da Saúde 2020.
Número de referência: OPAS-W/BRA/COVID-19/20-091
Fonte:
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52479/OPASWBRACOVID-1920091_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y&ua=1
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