Atividade física regular, manutenção do peso e uma boa alimentação contribuem para reduzir a pressão arterial.
Nem todos podem encher o peito e dizer: “Sou 12 por 8”, uma referência aos 120 por 80 milímetros de mercúrio considerados ideais para a pressão arterial. Pelo contrário; 30 em cada 100 brasileiros adultos têm pressão alta e 50% sequer têm conhecimento dessa condição. E trata-se de uma doença crônica. A hipertensão está diretamente ligada às duas principais causas de morte no Brasil: é o principal fator de risco para o acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, além de contribuir para o infarto e a insuficiência do coração.
Pensando nos hipertensos, que devem ser 50% da população até 2020, o cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Luiz Bortolotto acaba de lançar o livro Viver bem com hipertensão pelo selo Emagrece Brasil, da Editora Abril. À frente da Unidade de Hipertensão do Incor e como diretor científico do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Bortolotto já participou e organizou várias campanhas públicas de divulgação da doença, que acredita poder ser melhorada com a educação da população.
“Há algum tempo tenho a ideia de um livro voltado para leigos com orientações sobre a hipertensão arterial. Tínhamos livros para diabetes, câncer, síndrome da imunodeficiência adquirida (Sida), mas não para a doença mais frequente na nossa população. A hipertensão é assintomática na maioria das pessoas e a principal causa direta ou indireta de morte em nosso país. Daí a importância de orientar as pessoas de como lidar da melhor forma com a doença”, alerta.
Segundo o especialista, quanto mais precoce o diagnóstico, mais chances de evitar as complicações. Na juventude, principalmente, há uma relação direta entre hipertensão e a obesidade e o sedentarismo. O incentivo, desde cedo, a hábitos saudáveis de vida, como alimentação com pouco sal e caloria e atividade física regular, pode prevenir e até reverter a doença. Em adultos, o diagnóstico revela mais risco de complicações, mas se controlada com auxilio médico, hábitos saudáveis e medicamentos, a chance de ocorrência de complicações diminui muito.
E então, doutor? Dá para viver bem com hipertensão? Sim, desde que os pacientes sigam as recomendações de forma adequada. É importante consultar um médico de duas a três vezes por ano e ingerir pouco sal – 5 gramas por dia é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A atividade física deve ser regular. Bortolotto sugere 30 minutos diários, cinco vezes por semana, além da manutenção do peso, baixo consumo de álcool, diminuição do estresse e uso correto da medicação. “Isso deixa o paciente hipertenso com uma vida bem normal.”
O livro traz uma seleção de ajustes nos hábitos capaz de baixar a pressão, o cardápio perfeito, as atitudes inteligentes para escapar do excesso de sal no dia a dia, conselhos para flagrar e domar o problema em diversas fases da vida. Uma mudança de hábito (ver quadro) pode ser definidora. Um hipertenso com 160mmHg de pressão máxima (sistólica) que cumprir uma série de condutas terá, no mínimo, a redução de 21mmHG. Isso significa que sua pressão máxima cairá para 139 mmHg. Em um quadro mais otimista, nem precisará mais tomar remédios.
MAIOR CONSCIENTIZAÇÃO O potencial de redução da pressão por meio da adoção de hábitos saudáveis tem efeito superior ao de muitos medicamentos anti-hipertensivos. Para Bortolotto, é por isso que uma das melhores maneiras de melhorar o controle da pressão é a educação dos pacientes e também dos médicos, que tratam a maioria deles na assistência básica de saúde, sobre os melhores hábitos de vida, a melhor medicação para cada paciente e a melhor forma de acompanhamento.
Atualmente, para facilitar a adesão ao tratamento, buscam-se formulações com dois ou mais tipos de medicamentos em um mesmo comprimido, permitindo assim um melhor controle. O avanço da medicina pode ajudar o controle da doença no futuro. “Um tratamento ideal seria aquele que permitisse uma aplicação semanal ou mensal, ou mesmo anual, sem que houvesse necessidade do uso diário da medicação. Isso pode ser possível com o aperfeiçoamento dos estudos genéticos”, acredita o especialista.
Enquanto a tendência é de aumento dos casos, Bortolotto acredita que esforços educacionais das sociedades médicas e mesmo do governo podem conseguir um melhor controle e conscientização da população. Políticas públicas que incentivem aferições regulares de pressão arterial em postos de saúde ou por agentes de saúde e campanhas educativas para a adoção de hábitos saudáveis de vida, incluindo dieta com menos sal, atividade física, também são essenciais. “De certa forma, o livro pode ser uma semente nessa caminhada.”
Fonte: ESTADO DE MINAS – MG