DESINFORMAÇÃO LETAL
Quase 5 mil brasileiras morrem por ano devido ao desconhecimento dos sintomas e das formas de prevenção contra o papilomavírus humano, o HPV. De acordo com o levantamento mais recente do governo federal, o número chegou a 4.812 mulheres mortas em 2008, vítimas do câncer de colo do útero — que, neste ano, deve afetar mais 18.430 pessoas. A principal causa do surgimento desse tipo de tumor é a infecção pelo HPV, doença sexualmente transmissível mais frequente do mundo, e que pode ser evitada com o uso de camisinha, além de prevenida por vacinação.
Dados da Organização Europeia de Pesquisa sobre Infecção Genital e Neoplasia há dois meses mostram que existem, atualmente, 630 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no mundo. De acordo com Mauro Romero Leal Passos, professor-associado do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFF e chefe do setor de DST/Aids da universidade, a desinformação é o grande entrave na luta contra o HPV. Ele alega que, embora seja bombardeada diariamente com referências ao sexo pela mídia, as pessoas não recebem o mesmo grau de informação quando o assunto é prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. “É a ‘burca’ hipócrita da sociedade. Você escuta as pessoas falando mal de política, falando de futebol, mas não ouve ninguém comentando os processos de educação em saúde. Quantos professores de ensino fundamental se sentem à vontade para falar de sexualidade?”, questiona.
Poucas pessoas sabem, por exemplo, que, além do câncer cervical, o HPV está associado a outros tipos de tumores malignos, como o anal, o de vagina, o de vulva e o de pênis. E também é responsável pelo surgimento de verrugas genitais, DST que registra 30 milhões de novos casos ao ano, em todo o mundo.
A estudante de engenharia Clarice (nome fictício, a pedido da entrevistada) tem 20 anos e, no ano passado, descobriu que tinha HPV. Embora nem sempre a doença apresente sintomas (veja arte), Clarice notou uma pequena verruga na entrada da vagina, que desapareceu em alguns dias. Passadas algumas semanas, as verrugas, já maiores, retornaram. Ela só procurou um médico quando o namorado a alertou que poderia ser um vírus. “Ele foi ótimo, não me recriminou e me apoiou”, diz. “Eu estava assustada, porque li no Google que poderia ter câncer no colo do útero.” Clarice precisou cauterizar as verrugas com ácido, tomou um antiviral e precisou usar um creme de uso tópico. A cada seis meses, precisará fazer o Pananicolau, que, embora não tenha detectado nenhuma malignidade até agora, é o método mais eficaz para prevenir o aparecimento de um câncer.
VACINAÇÃO
Além do preservativo, que oferece 70% de proteção contra o HPV, é possível evitar a infecção pela vacina profilática, aprovada no Brasil em junho de 2008. Chamada de quadrivalente, por proteger contra os quatro tipos mais perigosos do vírus — 6, 11, 16 e 18 —, a vacina tem eficácia de 99% no caso das verrugas genitais, e entre 96% a 99% para as lesões pré-cancerígenas no colo do útero.
O ginecologista Nelson Vespa, que pesquisa a vacina quadrivalente, alerta, porém, que a imunização não deve ser confundida com tratamento, já que ela não cura o HPV. Por ser profilática, ela evita — daí a recomendação de ser tomada por mulheres entre 9 e 26 anos, pois a chance de que esse grupo etário já tenha tido algum contato com o vírus é menor. Ainda assim, novas pesquisas mostraram que mulheres mais velhas podem se beneficiar também porque a vacina reforça o sistema imunológico, diminuindo as chances de reincidência das doenças provocadas pelo HPV.
Outras pesquisas em curso também têm demonstrado a eficácia da vacina para homens, já que eles são os vetores do vírus. Hoje, 46 países já vacinam crianças e adultos do sexo masculino, incluindo os Estados Unidos, que aprovaram a imunização no ano passado.
FORA DO SUS
No Brasil, o Sistema Único de Saúde não oferece a vacina contra HPV. O Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para analisar a inclusão da imunização na rede pública, mas, por enquanto, a recomendação é que sejam realizadas mais pesquisas. “Existem ainda lacunas no conhecimento científico, relacionadas a: imunidade conferida pela vacina (estudos limitados em cinco anos e não sendo ainda conhecida a necessidade de reforço); não inclusão nos estudos apresentados de pacientes imunodeprimidos e gestantes; e escassez de estudos sobre os subtipos circulantes no Brasil”, diz o parecer técnico, enviado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) ao Correio.
Além disso, o documento ressalta o alto custo da vacina, estimado em US$ 120 a dose — são necessárias três aplicações por pessoa. “A introdução da vacina na rede pública implicaria num impacto de R$ 1,857 bilhão, apenas para cobertura da faixa etária de 11 a 12 anos. Como comparação, ressalta-se que o orçamento do PNI (Programa Nacional de Imunização), globalmente conhecido como um programa de excelência, é de R$ 750 milhões/ano.”
Mauro Romero Leal não se conforma. “Não faltam pesquisas. Países desenvolvidos já adotaram a vacina, por causa dos estudos. Se o governo quisesse, poderia negociar a compra em grande escala, o que diminuiria o custo. É uma decisão política. O ministério comprou 90 milhões de doses da vacina do H1N1 porque 3 mil pessoas morreram da chamada gripe suína no ano passado. Mais de 4 mil mulheres morrem por ano devido ao câncer de colo de útero. Qual é o critério?”, questiona.
É a ‘burca’ hipócrita da sociedade. Você escuta as pessoas falando mal de política, falando de futebol, mas não ouve ninguém comentando os processos de educação em saúde. Quantos professores de ensino fundamental se sentem à vontade para falar de sexualidade?”
Mauro Romero Leal Passos, professor da UFF
Fonte: CORREIO BRASILIENSE – DF
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